Ganhos de produtividade, inteligência de dados e transformação cultural foram algumas das vantagens debatidas durante o 5º Summit ACM, realizado em Florianópolis/SC.
Como promover uma transformação em saúde através do uso de tecnologias foi um dos temas mais discutidos na última edição do Summit ACM, realizado em Florianópolis entre os dias 03 e 05 de novembro. O local escolhido não poderia ser mais adequado, já que Florianópolis é atualmente a cidade brasileira que apresenta a maior concentração de startups do país. Santa Catarina como um todo também possui uma forte representatividade no segmento, concentrando cerca de 12% das empresas de tecnologia brasileiras que, hoje, são responsáveis por 6% do faturamento total do Estado. Com a transformação tecnológica em franco desenvolvimento na região, é natural e esperado que o segmento de saúde tenha sua cultura afetada, com o surgimento de novas estratégias e ferramentas que o tornam mais acessível a quem necessita.
Membros de diversos elos da cadeia, como indústria de equipamentos, laboratórios, saúde suplementar, medicamentos, médicos e empresas consumidoras estiveram reunidos para debater a respeito do que já está sendo feito e do caminho que ainda falta ser trilhado para que a tecnologia e o uso de dados promovam de fato benefícios aos usuários de serviços de saúde.
Produtividade
O ganho de produtividade foi um dos principais pontos levantados pelos participantes do Summit ACM. Países como os Estados Unidos e Inglaterra já têm regulamentada a telemedicina que, desde a década de 90, é utilizada especialmente para o sistema de atenção primária, onde a maioria dos problemas de saúde são atendidos e resolvidos ou, então, encaminhados ao próximo nível de atendimento. O resultado é a melhoria na gestão de custos, redução do tempo de espera pelo atendimento e agilidade na execução de estratégias de prevenção de doenças.
A ampliação dos recursos tecnológicos para atendimento é um dos fatores a serem considerados, especialmente quando se fala em custos operacionais. Ao debater sobre o impacto dos investimentos em saúde do trabalhador para as empresas, Dione Teodoro, Head de RH da Intelbras, relata a necessidade de encontrar alternativas que correspondam à realidade brasileira e que permitam combater desperdícios de verbas destinadas à saúde. “O desafio está em desenvolver um modelo de saúde que funcione para o colaborador e que seja sustentável para a empresa empregadora” afirmou a gestora.
Soluções direcionadas à inteligência de dados
Além da telemedicina para atuação e alcance direto dos pacientes, outro aspecto que vem crescendo na tecnologia em saúde é a utilização de dados que suportem a jornada inteligente do paciente, contemplando também os objetivos de gestores e empresas do setor, tornando possível uma gestão de custos e investimentos mais assertiva.
Um exemplo de solução ligada ao segmento da saúde é a healthtech LifesHub, sediada na capital catarinense e direcionada para fornecer inteligência de dados para diferentes players do setor, como indústria de medicamentos e equipamentos, profissionais, planos de saúde e empresas consumidoras. Através de uma plataforma que converge cerca de 5 terabytes de dados, é possível fazer uma análise estratégica do segmento de saúde analisando demandas, identificando oportunidades de novos mercados e qualificando a tomada de decisões a partir de informações relevantes. Os números impressionam: mais de 1,2 milhões de empresas, 3 milhões de profissionais de saúde, 78,3 milhões de beneficiários de sistemas de saúde suplementar e 7,5 bilhões de procedimentos estão registrados na plataforma, tudo isso alinhado com o que é preconizado pela LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados.
De acordo com Bento Toledo, Consultor em Gestão de Saúde da LifesHub, existe uma grande quantidade de dados sendo coletados a todo instante e é importante estruturá-los como informações úteis e estratégicas, que sirvam para suportar decisões e direcionar investimentos no segmento. “Aliar a inteligência de dados à comunicação e a gestão médica pode transformar a forma que é feita a assistência em saúde hoje no Brasil” afirma o executivo.
Para o médico Roberto Botelho, cofundador da plataforma de medicina Conexa, já há um volume de conhecimento que demonstra que o uso de inteligência de dados, tanto para a iniciativa privada quanto pública, é capaz de mudar 40% da ineficiência em saúde. “Se propor a analisar dados para melhorar a performance do setor é trabalhar no alto da pirâmide de hierarquia da saúde hoje no Brasil. Países que tomam essa medida não só melhoram a saúde da população, quanto aumentam o PIB per capita, ou seja, ficam mais ricos”, conclui o médico, também participante do Fundo Agir Ventures, dedicado ao desenvolvimento de healthtechs.
Mudança cultural para a transformação da tecnologia em saúde
Outro aspecto bastante abordado pelos participantes é o amadurecimento de um ecossistema que permita o redesenho da entrega de saúde, que vá além do desenvolvimento de tecnologias, mas que englobe também profissionais preparados para atuar sobre elas. Para isso, é necessária uma mudança cultural que envolva a inovação e integração entre a indústria, profissionais, saúde suplementar e usuários finais, que também precisam ser preparados para sair de um papel de “consumidor” para se tornarem cidadãos com consciência sanitária, que estejam preparados para o consumo da saúde em um novo formato.
De acordo com o médico Ademar Paes Junior, presidente da Associação Catarinense de Medicina, o beneficiário é o paciente, mas é preciso garantir que cada setor faça o melhor de sua especialidade, pois a solução só chega em conjunto. “O melhor para o paciente é ter uma jornada melhor em todos os elos”, conclui o médico.