Por Rossana Costa, diretora da GEO
O dicionário Houaiss define o consultor como aquele que “tem a função de aconselhar, emitir parecer técnico sobre determinado assunto de sua especialidade e/ou sugerir soluções”. Apesar dos enormes avanços tecnológicos em automação e inteligência artificial no setor de seguros, o trabalho de consultoria técnica do meio digital aparece entre as prioridades de corretores, seguradoras e da indústria como um todo.
Se antigamente o pensamento vigente era o de desenvolver todos os processos necessários de forma interna, com a atual expansão de mercados securitários essa obrigação ganhou mais complexidade em um mundo cada vez mais imediato e com exigência pela inovação. Nesse sentido, o suporte externo de empresas que oferecem soluções de rápida integração com a estrutura das grandes corporações virou um dos novos pilares da transformação digital.
No mercado de seguros, parte desta transformação veio das chamadas insurtechs, empresas de tecnologia que se propõem a resolver desafios do mercado de seguros com desenvolvimento ágil, geralmente com soluções digitais e baseadas em big data. Por conta destas características, tornou-se comum que seguradores busquem aliar-se a essas empresas para terceirizar ou incorporar serviços que, de outra forma, levariam meses e dezenas de milhões de reais para serem implementados por conta própria. Até alguns anos atrás, muitas dessas seguradoras ainda apostavam a maior parte das suas fichas simplesmente na força de suas marcas, o que se provou ineficiente diante da explosão do mercado de startups.
A medida que esse tipo de parceria se consolida, é normal que as seguradoras cobrem mais inteligência de negócio e visão estratégica de longo prazo. Assim, o que poderia ser visto apenas como um suporte tecnológico pontual, hoje é encarado como um suporte especializado. Por isso, é importante que as insurtechs entendam também os gargalos nas áreas de legislação e regulação, estudem a demanda da área de atuação e analisem projeções futuras, que são algumas das medidas que qualificam o produto no momento de ser ofertado ao mercado. Infelizmente, não é sempre esse o caso.
Nesse sentido, algumas plataformas passaram a aliar experiência no mercado de seguros com a capacidade tecnológica de big data e análise de dados para entregar insights às seguradoras, e não limitar-se a processamento e entrega de grandes quantidades de dados estruturados. Assim, a visão estratégica compartilhada resulta também em dividendos para ambas as partes, seja para as apólices que já fazem parte do portfólio atual das seguradoras ou para novas adições.
Com esse arcabouço de qualidades desenvolvidas, esses parceiros também ganham destaque no mercado segurador como agentes de impulsionamento na contratação de seguros. Considerando que o Brasil faz parte das dez maiores economias globais, ocupar a 12ª posição no ranking de seguros e apenas a 45ª em arrecadação per capita em seguros demonstra o potencial que o segmento pode atingir nos próximos anos.
Analisando dessa forma, fica claro a necessidade das seguradoras por uma consultoria estratégica em um cenário que elas são desafiadas a investir em todos os segmentos securitários com o mesmo know-how e estrutura, enquanto convivem com demandas mais complexas de infraestrutura tecnológica e de relacionamento com parceiros e clientes. Esse tipo de solução também atrai os corretores de seguros, que teriam à disposição uma ferramenta que permite a entrada em novos segmentos sem ter que passar por um período extenso de especificação, que já teria sido feito pela empresa desenvolvedora e oferecida de forma didática.
Essa é uma estrutura em que todos podem se beneficiar ao expandir suas áreas de atuação e, assim, aumentar a contratação de ofertas de seguros. Seguros para a construção civil e o setor imobiliário, assim como seguros para a oferta de crédito com garantia de imóvel são alguns dos exemplos que podem se beneficiar ao ganhar mais visibilidade já que muitas vezes suas ofertas se concentram nas mãos de poucos players. Um cenário de baixa concorrência que tradicionalmente não estimula inovações como processos 100% digitais e com taxas mais baixas.