Por Rossana Costa, diretora da GEO
A transformação digital, que segue como o mantra das grandes seguradoras no século 21, é um dos símbolos da nova era, informação e big data no setor já são uma realidade. Pode parecer que se fala disto há muitos anos – de fato –, e isso acontece por que a transformação digital não é apenas um fim tecnológico, mas sim um processo contínuo de cultura, processos e evoluções tecnológicas das empresas. Cada vez mais, o mundo digital se cruza com o offline, impactando em especial os negócios que antes eram vistos como mais distantes e menos afetados.
Segundo o investidor Steve Case, co-fundador da AOL (América Online), um dos primeiros provedores privados de internet do mundo, a sociedade vive a “Terceira Onda da Internet”. Se na primeira onda o foco era na infraestrutura que permitiu a expansão da internet por meio de gigantes como Cisco e Dell, a segunda fez florescer e fortalecer as empresas que definiram os modelos de negócios digitais que reconhecemos hoje (Google, Facebook e Amazon).
Já a terceira onda surge da enorme oferta de conectividade impulsionada pela internet móvel e a computação em nuvem; a proliferação de smartphones e outros dispositivos móveis com recursos de geolocalização e alta capacidade de processamento; e, claro, a popularização de serviços baseados em big data e machine learning. Nesta onda, ficar desconectado da internet não é mais uma opção, e as empresas de todos os setores da economia já estão percebendo isso.
Diante da proliferação incessante de startups que nascem totalmente baseadas na computação em nuvem e com serviços voltados a quem também está conectado, grandes empresas estão adaptando suas estruturas e buscando novos parceiros tecnológicos para competir com serviços que surgem diariamente na tela do smartphone. E para o setor de seguros, não será diferente.
No caso específico do mercado segurador no Brasil, formado em sua maioria por companhias de grande porte e com estruturas internas bem estabelecidas – seja pela ligação com bancos ou por serem filiais de marcas multinacionais –, contar com parcerias externas especializadas é uma opção eficaz para acompanhar esse ritmo cada dia mais veloz.
Assim como as startups economizam milhões de dólares estruturando suas operações com provedores de nuvem em vez de gastar com data centers próprios, as seguradoras também não precisam arcar com o ônus financeiro e de equipe decorrentes do desenvolvimento das evoluções tecnológicas, podendo explorar soluções desenvolvidas por terceiros e que se encontram em estágio maduro.
As parceiras tecnológicas do mercado segurador oferecem uma alternativa viável e ágil para acelerar processos da transformação digital neste segmento da economia. Elas podem ser as responsáveis pelo processo de adaptação das novas ferramentas com a estrutura legada já existente nas seguradoras. Além disso, também têm a vantagem de atuar de maneira segmentada em aspectos específicos do setor, como apólices diferenciadas, ou no relacionamento direto com os corretores, ampliando de forma substancial a distribuição de determinadas operações de seguros.
Assim, torna-se possível separar no mercado de insurtechs quem somente oferece uma solução tecnológica avançada e quem vai além e se aperfeiçoa como parceiro digital das seguradoras, agregando elementos chave neste novo cenário, como expertise em relação à legislação, elementos de subscrição e eventual regulação de determinado produto, indo inclusive até a captação de novos negócios por meio de corretores e outros players do mercado, oferecendo também uma distribuição rápida e especializada de forma online.
Ao contar com uma parceria digital verdadeiramente estratégica, as seguradoras ganham mais do que uma ferramenta tecnológica e moderna, agregando a consultoria técnica como pilar central em ações cada vez mais personalizadas. Por exemplo, um parceiro que consiga desenvolver uma apólice inédita no mercado, após um longo processo de estudo de cenário e análise de viabilidade técnica e atuarial, aliado a uma plataforma com elementos de inovação tecnológica, pode ser o diferencial para uma seguradora explorar áreas menos disputadas do mercado securitário, como o setor imobiliário e de construção civil.
Outro aspecto no qual uma parceira digital pode impactar positivamente as seguradoras é a capacidade de análise de dados. Apesar da quantidade e detalhamento de informações ter aumentado exponencialmente como decorrência do processo de digitalização das apólices ao longo dos últimos anos, a análise desses dados como base de informação ainda não está completamente implementada no mercado segurador.
Neste aspecto uma parceira pode identificar, compilar e tratar essas informações de forma a transformá-las em subsídios para calcular e subscrever novos riscos. O acesso compartilhado a uma nova base de dados devidamente tratada pode resultar em maior agilidade no processo de aprovação, além de taxas menores para clientes de apólices que já estão em oferta no mercado, atingindo o consumidor na ponta de forma efetiva e tornando a seguradora muito mais competitiva.
Por último, contar com uma parceira estabelecida e reconhecida neste segmento significa também uma segurança quanto à eficiência de entrega, escalabilidade e capilaridade, além de proteção de dados – um dos pontos críticos que já ganhou maior destaque nesse cenário de revolução digital.
Sem ajuda especializada, a tarefa de estar constantemente na vanguarda da inovação pode se tornar desafio complexo e lento para as seguradoras, em um ambiente tecnológico que evolui cada vez mais rápido. Independentemente do tamanho ou dos processos empregados nas empresas, este movimento exigirá agilidade e uma multiplicidade de domínios e expertises que parcerias estratégicas poderão suprir de forma muito lucrativa nesta jornada da transformação digital que estamos vivenciando nesta “Terceira Onda da Internet”.