Por: Richard Furck
O mercado de seguros vive nos últimos anos uma verdadeira transformação em quatro aspectos, que está́ revolucionando suas bases:
• COMPORTAMENTAIS – A Covid-19 e os reflexos comportamentais da pandemia produziram drásticas mudanças na maneira como as pessoas se relacionam, produzem e consomem, e o ambiente digital passou a ser um canal fundamental na busca de soluções.
• TECNOLÓGICOS – A tecnologia tornou-se ferramenta- chave para a oferta de novas soluções, virando um campo de conhecimento essencial da atualidade. Novas soluções de tecnologia e múltiplos canais de comunicação e oferta tornam possível atender a um consumidor cada vez mais antenado e exigente, ainda mais diante dos enormes desafios impostos pelo trabalho remoto, com milhares de colaboradores alocados para dentro de suas casas num espaço de tempo nunca antes imaginado por qualquer empreendedor.
• REGULATÓRIO – Neste cenário comportamental e tecnológico, surge um novo marco regulatório no mercado de seguros, imprimindo mudanças dramáticas, baseadas em inovação, disrupção, quebra de barreiras regulatórias centenárias, e um redesenho completo do mercado, com novos atores, diferentes produtos e dinâmicas. Tudo isso, a ser implementado num piscar de olhos, numa verdadeira “revolução de 50 anos em 5”.
• MERCADO E DISTRIBUIÇÃO – Atônitos diante deste novo consumidor e de novos players entrantes reinventando o jogo com seus bolsos repletos de capital e regras diferenciadas (como as das insurtechs, nos sandboxes), os seguradores, corretores e demais atores incumbentes do mercado de seguros demostraram sua força e capacidade de união, reagindo e adaptando-se de forma brilhante. Um mercado maduro, que viabilizou em dias um cenário organizacional que se tivesse sido planejado, teria demorado anos para se concretizar.
Em meio às propostas de inovação, surgiu a figura do Open Insurance, medida proposta pela Susep, com o objetivo de trazer transparência e modernidade para o setor.
Um modelo nascido do Open Banking, “irmão gêmeo” do mercado financeiro, “copy-paste” de um mesmo “remédio”, para mercados com 76 anos de diferença regulatória e legislativa.
Uma mesma solução para bancos e seguros, em que pesem as enormes diferenças entre os riscos inerentes à estas atividades, seus prazos de duração dos contratos e serviços, margens de lucratividade, portfólio e complexidade de produtos, custo de aquisição de clientes, geração de receita por cliente, “Lifetime value”, e tantos outros indicadores de desempenho desiguais.
Tome-se como exemplo a complexidade das informações envolvidas na tarifação de seguros e seus dados de natureza industrial, comercial, pessoal e familiar, além das financeiras. Tornar “públicos” e fungíveis estes dados, representaria colocar em risco
eventuais segredos industriais, ou ainda, divulgar nomes e idades dos filhos de alguém, sob pretexto de oferta de um seguro de vida.
Embutida no discurso “inclusivo” e disruptivo do Open insurance, observa-se uma lógica clássica do “freenomics”, segundo a qual se aprende que “quando um serviço é gratuito, o produto é você!”
Será que os dados do consumidor de seguros vão se tornar um produto? Será que é realmente o consumidor quem vai ganhar, quando o Open Insurance distribuir dados entre todos os players do mercado nesse imenso “mailing regulamentado”?
O Open Insurance propõe a possibilidade do intercâmbio de dados para que o consumidor possa consultar outras propostas de seguro com a concorrência. Seus principais ganhos seriam “tornar o mercado mais aberto, para que o consumidor possa receber diferentes ofertas de seguros ou mais adequadas às suas necessidades”.
Ou seja, EXATAMENTE AQUILO QUE O CORRETOR DE SEGUROS OFERECE AO CONSUMIDOR HÁ MAIS DE CINCO DÉCADAS, conhecendo todos os produtos e soluções disponíveis, desenhando coberturas adequadas ao cliente, comparando preços e garantias, e apresentando opções de proteção, de forma consultiva, e agora, em formato digital. E sem tornar os dados públicos. Ora, no final das contas o tal OPEN INSURANCE nada mais é do que o PAPEL DO CORRETOR DE SEGUROS.
Seu [do Open Insurance]principal argumento favorável é ‘tornar o mercado mais aberto’, ‘para que o consumidor possa receber diferentes ofertas de seguros’ […] Ou seja, exatamente aquilo que um corretor de seguros oferece ao consumidor há mais de cinco décadas.
*Richard Furck é corretor de seguros, consultor de empresas, Coach, Mentor, Palestrante, e professor em programas de Pós Graduação e MBA. Atua há 17 anos como consultor para empresas como AON, Bradesco Seguros, Itau Seguros, Liberty, Lojacorr, Porto Seguro, Tex-Teleport, Segfy, Sincor-SP, SulAmérica, Tokio Marine, Yasuda, Zurich, entre outras.