São Paulo – SP 9/3/2021 – As condições sanitárias devem ser valorizadas no saneamento básico, como água tratada, esgoto canalizado, educação e hábitos higiênicos.
A prevalência da bactéria se divide em alta, média e baixa. O Brasil é considerado um país de média prevalência, quando comparado aos demais países do mundo, embora tenha diferenças regionais importantes.
A Helicobacter pylori é uma bactéria gram negativa e foi descrita e divulgada na Austrália por um patologista e um gastroenterologista, em 1983. Os Drs. Robin Warren e Barry Marshall constataram a presença dessa bactéria em biópsias do estômago de pacientes que realizaram endoscopia por sintomas digestivos e nos quais foram observados processos inflamatórios na mucosa gástrica.
Após um período de descrédito pelo achado, vários pesquisadores, em várias partes do mundo, corroboram a descoberta. Devido à descrição e importância dos seus achados, foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina em 2005.
Essa infecção é mais prevalente em populações de países subdesenvolvidos, o que acarreta deficiências no sistema de saneamento básico. Portanto, existem áreas onde mais de 70% da população adulta está infectada e áreas com menos de 30% de infectados.
Nas regiões onde o saneamento básico continua precário, a população em geral tem contato com a bactéria na infância e este persiste na fase adulta. Nas regiões onde ocorreu melhora substancial nas condições sanitárias há menos crianças contaminadas, mas os adultos que conviveram em situação mais precárias na infância serão os positivos para a bactéria. Isso tem sido observado nos países que melhoraram seus índices de desenvolvimento humano investindo em condições educacionais, sanitárias e econômicas de sua população.
No Brasil, o tema ainda é uma preocupação de saúde pública.
Para o entendimento, pode-se considerar o estômago com dois grandes compartimentos: o proximal, chamado de corpo gástrico, e o distal, ou antro gástrico.
A parte proximal é onde se secreta o ácido clorídrico, o fator intrínseco, o muco e a pepsina. Todos esses elementos são importantes na proteção do organismo, na digestão e absorção. O fator intrínseco é fundamental na absorção de vitamina B12 no intestino.
O antro é produtor de substâncias hormonais que regulam a produção do corpo gástrico, ora estimulando-o, ora bloqueando-o. Ele produz a gastrina, que estimula as células produtoras de ácido, e a pepsina e a somatostatina, que inibem a produção do mesmo.
Uma característica da Helicobacter pylori é sua capacidade de viver em meio ácido pela sua propriedade de converter a ureia presente no suco gástrico em amônia e dióxido de carbono, mantendo-se envolta em um meio que lhe capacita viver e atuar na mucosa gástrica.
As consequências da presença da bactéria é o processo inflamatório causado no estômago, inicialmente na parte distal. Esses achados são observados na grande maioria dos pacientes assintomáticos. Esse processo inflamatório poderá acarretar que as células glandulares do corpo gástrico passem a secretar mais ácido, podendo, em torno de 1% a 10% dos portadores ao longo da sua vida, adquirirem úlcera péptica do estômago ou duodeno (primeira porção do intestino delgado).
Em torno de 1% a 10% dos pacientes com sintomas ditos dispépticos são investigados e portadores da bactéria.
Pelo processo inflamatório crônico, menos de 0,1% tem uma forma de Linfoma – Linfoma Malt -, que em seus estágios iniciais poderão ser tratados erradicando a bactéria do estômago.
Com a evolução do processo inflamatório, haverá diminuição da secreção ácida, o que contribui para que cerca de 1% dos portadores desenvolvam uma forma de câncer, o adenocarcinoma gástrico.
É descrita a correlação da bactéria com alguns pacientes que desenvolveram anemia por deficiência de ferro e vitamina B12 e casos de púrpura trombocitopênica.
Todas as pessoas com sintomas digestivos, ao procurarem seu atendimento médico e apresentarem sinais compatíveis ou história familiar dessas patologias, deverão ser investigadas.
A pesquisa da presença da Helicobacter pylori poderá ser realizada por testes não invasivos ou pela endoscopia digestiva com biópsias da mucosa gástrica para pesquisa histológica da presença da bactéria e estágio do processo inflamatório da mucosa.
A Endoscopia Digestiva Alta é largamente utilizada tanto para o diagnóstico da presença da bactéria como para estudar a situação das consequências inflamatórias que a Helicobacter pylori acarretou na mucosa gástrica.
Os testes não invasivos, como o teste respiratório de carbono marcado, o teste de antígeno nas fezes e a dosagem dos anticorpos contra a Helicobacter pylori ainda, no Brasil, são restritos a poucos centros.
A dosagem no sangue dos anticorpos contra a Helicobacter pylori numa determinada população é utilizada principalmente para determinar a situação epidemiológica de uma população em determinada região, demonstrando que esse grupo populacional teve o contato com a bactéria e a mesma acarretou a formação de anticorpos. No entanto, não determina que naquele momento o indivíduo testado tem a mesma no estômago, pois ela pode ter sido erradicada por tratamentos prévios para outras patologias infecciosas cuja medicação tenha tido efeito sobre a Helicobacter pylori.
No IV Consenso Brasileiro da Helicobacter pylori foram definidos critérios de diagnóstico, tratamento e seguimento desses pacientes.
O tratamento deve ser seguido à risca, para evitar a resistência da bactéria aos agentes terapêuticos.
Após o tratamento, a erradicação da bactéria deve ser monitorada ou por métodos não invasivos ou por endoscopia digestiva e pela realização de biópsias e análise histopatológica.
Como a infecção é adquirida na maioria das vezes na infância, o tratamento, quanto mais precoce, poderá evitar a evolução das lesões que a bactéria acarreta na mucosa.
À necessidade de pacientes por outras situações clínicas do uso de agentes agressivos à mucosa gástrica por tempo mais prolongado, como antiinflamatórios não esteroides, aspirina e agentes anticoagulantes, recomenda-se investigar se são portadores da bactéria. O motivo dessa preocupação em particular é do aumento do risco de provocarem sangramento em portadores da bactéria.
Federação Brasileira de Gastroenterologia
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