Tragédia previdenciária grega serve de alerta para o Brasil

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‘O problema é que a população não entende o sistema previdenciário e os políticos também não’, diz economista Platon Tinios, na Conseguro

O economista grego Platon Tinios foi assessor do ministro da Fazenda de seu país entre 1996 e 2004. Nessa época acompanhou as recorrentes discussões sobre reforma da previdência que não foram capazes de evitar que o país quebrasse em 2010. Em palestra no primeiro painel do último dia da 8ª Conseguro, destacou a ineficiência das reformas realizadas até agora – já foram mais de 12 cortes de benefícios. Afirmou, porém, que o país – e toda a Europa – não conseguirá fugir de um modelo com maior participação da previdência privada, o que não foi feito até agora.

“O sistema ainda é melhor que o de 2010, mas não é suficiente. É muito ambicioso. Tudo é fornecido pelo estado, com pouco papel para fundos privados. Há uma promessa de reposição de 80% (do salário da ativa), então, as pessoas não precisam procurar outras alternativas de previdência complementar”, resumiu Tinios.

Na avaliação do economista, um dos problemas é que a reforma acabou acontecendo no meio da crise, com o país pressionado por uma comissão de credores.  “Antes, a Grécia tinha discussões sem mudanças. Depois, passou a ter mudanças sem discussões. E as pessoas diziam que a reforma fazia parte de uma agenda liberal, mas na verdade o sistema continua 100% responsabilidade do Estado”, contou.

Só em 2016, quando recebeu o terceiro pacote de ajuda, a questão da previdência foi atacada de verdade. Mesmo assim, ele aposta que novos ajustes serão necessários. “Precisamos restabelecer o elo entre poupança das famílias, previdência e crescimento. Foi graças a isso que o país cresceu nas décadas de 50 e 60, depois que implantou a previdência, porque o sistema gerava poupança”, explicou, mostrando que o sistema ainda trabalha no sentido contrário, ou seja, drena poupança e gera problemas fiscais.

Participando do mesmo painel, o economista Paulo Tafner disse que o Brasil enfrenta problema semelhante. Segundo ele, a reforma paramétrica, que altera a idade mínima de aposentadoria e está em discussão no Congresso, ataca a maior parte do problema previdenciário, mas é necessário um modelo multidisciplinar com incentivos aos participantes para que façam outros tipos de poupança.

Ele teme, porém, que o atual momento de recuperação da economia diminua o sentido de urgência da reforma. “Estava convencido de que teríamos reforma em maio. Agora, tenho certeza que não teremos mais esse ano. O risco agora é que os congressistas, vendo a economia crescer, não votem a reforma”, disse Tafner.

“O problema é que a população não entende o sistema previdenciário e os políticos também não. Há um analfabetismo dos números”, completou o economista grego.

Também na mesa de debate, Edson Franco, presidente da FenaPrevi, citou alguns números sobre idade de aposentadoria, média de benefícios pagos, estrutura da previdência oficial, que pareciam ser do Brasil. Mas não. Eram da Grécia, antes do colapso do país que começou em 2010 e se agravou em 2015 com o atraso de pagamento da dívida. Franco perguntou a Tinios se era melhor realizar a reforma da Previdência aos poucos ou de uma vez somente. O economista grego foi pontual: “Fazer reforminhas aos poucos é pior”.

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