Por Robert Pearl*
No dia 22 de outubro, eu tive o privilégio de fazer a palestra magna no 4º Fórum da Saúde Suplementar, no Rio de Janeiro, Brasil, com foco no “Desafio da Eficiência em Saúde” em todo o mundo. Apresentada pela FenaSaúde, a conferência foi dedicada a melhorar a saúde do país por meio de maior qualidade, melhor acesso e maior acessibilidade aos cuidados.
A presidente da organização, Solange Beatriz Palheiro Mendes, abriu a programação de dois dias com um admirável e abrangente discurso, enfatizando a magnitude dos desafios que a saúde do Brasil enfrenta, em grande parte como resultado de uma recessão que causou a saída de 3 milhões dos 55 milhões de beneficiários de planos de saúde no país.
Em sua fala, Solange Beatriz enfatizou a necessidade de integrar partes distintas da cadeia de saúde suplementar, expandir os serviços de atenção primária, reduzir custos e passar de um modelo de pagamento fee-for-service para um com foco em qualidade. Suas observações evocaram os problemas que escutei durante minha viagem à Austrália no início deste mês e em quase uma dúzia de conferências nos EUA, nas quais participei neste outono.
Entretanto, existem diferenças importantes na abordagem de cada nação aos problemas. Por exemplo, uma coisa particularmente se destacou para mim neste Fórum no Brasil. Não só vi a participação de CEOs das empresas de seguros e lideranças médicas, mas também algumas autoridades do alto escalão do Governo.
Na plateia, estavam o Ministro da Saúde do país, Gilberto Occhi, acompanhado pelo Ministro da Justiça, Torquato Jardim. Reunir esses dois líderes tão importantes do governo com uma ampla gama de executivos da saúde e especialistas criou um solo fértil para coordenação e colaboração, ambos essenciais para melhorar o atendimento médico de uma nação. Eu não acredito que tenha visto essa magnitude de parceria público-privada nos Estados Unidos, mas recomendo que nosso país siga essa liderança do Brasil.
Durante toda a conferência, ouvi atentamente os notórios especialistas no palco. Em minhas análises, concentrei-me nos desafios da saúde que são enfrentados por nações ao redor do mundo. Elas incluem: um rápido envelhecimento da população, a expansão das doenças crônicas e o aumento dos custos médicos – geralmente crescendo muito mais rápido que o PIB.
Tal é o caso no Brasil, onde o sistema público é incapaz de acompanhar as necessidades de saúde de sua população e o governo é incapaz de financiar a lacuna. Apesar desse desafio, acredito que o Brasil poderia ser um modelo para o futuro da saúde por meio da ruptura tradicional.
Como os Estados Unidos, o Brasil é um país de grandes extensões. Portanto, é impossível fornecer atendimento médico de alto padrão em todas as regiões. Para isso, tecnologias como vídeo e cuidados digitais poderiam melhorar muito o acesso da nação ao atendimento, reduzindo os custos.
Além disso, embora a qualidade dos cuidados médicos prestados por meio dos planos suplementares privados seja excelente, os custos permanecem problemáticos para empresas e famílias. Nos segmentos em que houve regulação de preços, os planos de saúde estão buscando abordagens inovadoras para a prestação de cuidados. Encorajei tanto o setor privado quanto o público a abraçar as mudanças e juntos avançar.
No final do dia, participei de um painel de discussão com representantes da Academia, hospitais, planos de saúde e lideranças médicas. Nosso assunto: O que precisa acontecer a seguir?
Fui questionado sobre o que eu faria se eu fosse responsável pela saúde da população brasileira. Eu disse que encorajaria a formação de organizações de saúde integradas, cada uma atendendo pelo menos com 50.000 beneficiários. Elas seriam pagas pelo sistema de atendimento seguindo o modelo capitation (número de pacientes atendidos). Também seriam conectadas por meio de um EHR (prontuário eletrônico de saúde) comum e abrangente. E ofereceriam aos pacientes uma variedade de maneiras de obter assistência médica virtual sem custo adicional.
Em minhas observações finais, incentivei a FenaSaúde, o governo e todos os líderes, na plateia, a marcar a data 22 de outubro de 2018 e iniciar a contagem regressiva que termina daqui a cinco anos.
Imagine o que aconteceria, eu disse, se todos prometessem interromper os pagamentos a qualquer médico ou hospital que falhasse nessa data para atender às suas demandas por qualidade, acesso e acessibilidade. Evidentemente, fiquei surpreso com os aplausos que seguiram a essa recomendação.
Gostaria de agradecer às seguintes pessoas por tornarem minha visita ao Rio uma experiência maravilhosa e educativa: Sandro Leal Alves, superintendente de regulação da FenaSaúde, José Cechin, diretor executivo, e Ana Marques, superintendente de eventos.
Eu espero acompanhar de perto o sucesso do Brasil no futuro.
* Robert Pearl – Professor de Medicina e Administração em Saúde da Universidade de Stanford, colunista da Revista Forbes, autor do livro ‘Mistreated: Why we think we’re getting good healthcare and why we’re usually wrong’ e ex-CEO da Kaiser Permanente.