Mais uma vez, Wiz sofre na bolsa com negociações com a Caixa – desta vez, instituição disse que a seguradora não terá exclusividade em novo acordo com a CNP
SÃO PAULO – Mais um balde de água fria em uma história que já gera muitas questões sobre uma das empresas que já foi um dia a “queridinha das seguradoras“, mas que vem sofrido ultimamente com um imbróglio que a cada dia atinge novos desdobramentos – sendo o último deles muito negativo para essa ação.
Trata-se da Wiz (WISZ3) que, recebeu um novo comunicado da Caixa Seguradora mostrando contrariedade em relação a um documento divulgado no dia 29 de setembro pela companhia e fez a ação chegar a cair mais de 15% nesta sessão, chegando na casa dos R$ 12,00 (para uma ação que era vista por gestores com potencial de chegar aos R$ 35,00).
Vamos aos comunicados. No dia 29 de setembro, a Wiz afirmou que, “conforme estabelece o nosso acordo de acionistas, a exclusividade outorgada à Companhia está vinculada, fundamentalmente, a existência de parceria comercial entre a Caixa Econômica Federal e a CNP Assurance S.A., conforme alterada de tempos em tempos. Desta forma, alterações nas condições e estruturas jurídicas que preservem a parceria comercial entre estas entidades preservarão também, por consequência, a exclusividade da companhia para distribuição, intermediação e comercialização dos produtos que permanecerem sob as condições da eventual nova parceria.
Contudo, esse não foi o entendimento da Caixa Seguridade. Ela afirmou na noite de ontem que “a obrigação ali disposta [acordo de acionistas da companhia]diz respeito às subsidiárias da Caixa Seguros e a CAIXA e não abrange eventual a nova joint venture formada pela CNP por meio de sociedade não controlada pela Caixa Seguros”.
Mas por que esses comunicados divergentes levaram a tal derrocada da ação WIZS3 nesta terça-feira? Para tanto, é importante ir para o início da novela entre a Wiz e a Caixa (você pode ver a história completa clicando aqui).
Fundada em 1973, a Wiz (antiga Par Corretora) é uma corretora com foco no modelo de “bancassurance”. Trata-se da parceria ou relacionamento entre um banco e uma seguradora, onde esta usa o canal de vendas do banco para vender os produtos de seguros. No caso da Wiz, a parceria é com a Caixa Econômica Federal. A principal fonte de receita da Wiz é a venda de produtos de seguros da Caixa Seguradora (uma joint venture entre a francesa CNP Assurances e a Caixa) atrelados aos produtos financeiros da Caixa. E essa passou a ser a grande questão para a empresa.
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O mercado passou a acompanhar, mais do que os ótimos números apresentados pela companhia, uma possível revisão do acordo entre a CNP e a Caixa. A sua rescisão significaria um grande revés para a Wiz, já que ela não seria mais a corretora exclusiva da Caixa Seguradora nas agências do banco, o maior em tamanho da base de clientes e que, na avaliação de diversos analistas, ainda não atingiu o seu pleno potencial. O contrato venceria somente em 2021, mas a manutenção desse era vista como crucial para as atividades da Wiz, principalmente porque o mercado “antecipa” esses eventos futuros nos preços atuais.
No final de setembro, a Caixa Seguridade e a CNP comunicaram terem firmado um memorando de entendimentos, não vinculante, para a formação de uma nova sociedade que atuará nos ramos de seguro de vida, prestamista e previdência privada, com distribuição exclusiva na Caixa Econômica Federal. No mesmo dia, a Wiz afirmou que a sua exclusividade para distribuição, intermediação e comercialização de seguros e outros produtos da Caixa está vinculada à parceria comercial com a CNP Assurances. E é essa a interpretação da Wiz que está sendo contestada pela Caixa – fazendo com que a ação sofra tanto nessa sessão. Afinal, a Wiz previa que poderia ser afetada em alguns segmentos, mas seguiria com a exclusividade em outros abrangidos em nova acordo. Com a interpretação da Caixa, o cenário parece mais negativo – gerando mais dúvidas sobre o futuro da Wiz como corretora de seguros da Caixa.
Contudo, apontam os analistas do BTG Pactual, o mercado não precificou totalmente o fato relevante da Wiz do final de setembro. A ação, por sinal, caiu mais de 5% em outubro, mostrando certa cautela com relação aos novos desdobramentos.
Barganha da Caixa?
Além disso, Eduardo Rosman e Thiago Kapulskis apontam que a Wiz ainda acredita que é seu “direito” ser a corretora exclusiva desta joint venture, mas a resposta da Caixa Seguridade pode significar que há outros planos para a corretora.
Dois desses planos estão em pauta: i) talvez a Caixa Seguridade queira excluir a Wiz do processo (algo que o BTG não acredita que acontecerá), ou ii ) irá explorar a situação para negociar melhores termos (o que é visto como mais provável).
Das receitas totais da Wiz, 20% provêm independentemente dos negócios com a Caixa (riscos especiais, Finanseg, entre outros), 50% provêm de seguros de vida e previdência (que passariam para a nova joint venture) e 30% provenientes do segmento imobiliário (um segmento que a Caixa Seguridade vai agora licitar para um novo grupo de seguros, com a CNP na corrida). Assim, com o novo comunicado da Caixa Seguridade, 80% das receitas da Wiz estão em risco (interpretação da Caixa Seguradora), e não 30% (segundo interpretação da Wiz em comunicado de 29 de setembro).
De qualquer forma, o BTG Pactual ainda avalia que a Wiz continuará sendo a única corretora de seguros no universo da Caixa, uma vez que ela gera muito valor para a cadeia de seguros do banco: a Wiz possui 2 mil empregados (mais de mil assistentes de vendas nas agências da Caixa) na instituição, sendo totalmente operacional e possuindo o seguro CRM. Além disso, a Wiz tem como uma das principais acionistas a FENAE (Federação dos funcionários da Caixa).
“Mas o número de resultados potenciais é enorme e muito difícil de precificar. E com o passar do tempo, a probabilidade de resultados negativos parece estar crescendo”, ponderam os analistas do BTG.
Os analistas do banco lembram que o memorando de entendimento entre a CNP e a Caixa Seguridade não é vinculativo e eles ainda aguardam a sua conclusão para mais informações. Na visão deles, a joint venture ainda usará a Caixa Seguradora, mas com novas vendas na operação da joint venture. Se isso acontecer, a Wiz provavelmente seria a corretora exclusiva, mas potencialmente com taxas de comissões mais baixas. “Porém, até que algo aconteça ou haja um novo anúncio, tudo permanece ‘como está'”, apontam os analistas.
Se o memorando de entendimentos não prosseguir, as negociações voltam à estaca zero. E se o processo de leilão se arrastar, levando em consideração que 2018 é um ano de eleição presidencial, a revisão do acordo pode levar ainda mais tempo.
Nesse cenário, a Wiz continua sendo a corretor exclusiva de todos os produtos. “Após os acontecimentos recentes, este parece o melhor cenário para Wiz no curto prazo”, apontam os analistas que ressaltam, contudo, que o viés para o papel está menos construtivo.