O Brasil pode ir além de um crescimento como o previsto para 2022, em torno de 1,5%, ou até menos. Segundo os economistas reunidos esta manhã no painel “Três visões para o Brasil do amanhã”, da Conseguro 2021, neste país de contrastes as dificuldades são grandes, mas há oportunidades de investimento, como nas áreas de infraestrutura e meio ambiente.
Com a economia mundial num ritmo menos favorável e os indicadores macroeconômicos ainda sem cenário de melhoria, a exemplo da inflação, juros e câmbio, o Brasil lida ainda com problemas estruturais graves. Entre eles, baixa produtividade, estrutura tributária perversa, uma economia fechada a setores, baixo grau de efetividade do gasto público e desigualdade de renda.
O painel “Três visões para o Brasil do amanhã” reuniu os economistas Marcos Lisboa, diretor-presidente do Insper, Marcio Holland, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV), e Carlos Kawall, diretor do ASA Investments. A moderação foi feita pelo Presidente da Confederação Nacional das Seguradoras – CNseg, Marcio Coriolano, que também é economista.
“O setor de seguros necessita de um cenário macroeconômico de queda da inflação, que traz fôlego e renda aos consumidores, e queda da taxa de juros, que estimula a tomada de empréstimos. Se tivermos isso, poderemos seguir pelo menos a trilha de crescimento registrada nas últimas décadas”, comentou Marcio Coriolano.
O Presidente da CNseg buscou resumir os atuais desafios do país. “Desde pelo menos 2008 o Brasil tem vivido vários choques, externos e internos. No curso inicial deste governo, havia a expectativa de reformas estruturais que ancorassem um ciclo virtuoso fiscal e monetário. Ocorre que veio a pandemia, crises institucionais e reposicionamentos globais”, citou.
Segundo Coriolano, há pressões na cadeia de suprimentos que transbordam o movimento dos preços. Todos se voltam para as agendas do Banco Central e do Congresso, mas também para as expectativas políticas e institucionais. Fora o que ocorre no mercado de trabalho, com os rendimentos médios e a produtividade.
“O mercado de seguros é muito sensível aos atributos da produção, emprego e renda. Os agentes econômicos, em cada elo da cadeia produtiva, são os seus clientes: pessoas, famílias e empresas. Nas crises, as pessoas primeiro vão suprir suas necessidades básicas para depois optar por um seguro. E temos 73% de pessoas com rendimentos abaixo de dois salários-mínimos”, enfatizou Coriolano.
Marcio Holland, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirmou que o mundo mostrou, nos anos 2000, ter capacidade para gerenciar diversos aspectos como juros e inflação e ainda crescer em média 4,5%. Mas veio a crise financeira de 2008, com efeitos em alguns países, até hoje. “Houve uma mudança muito forte dos bancos centrais, com taxas negativas de juros, com políticas não convencionas para mitigar os efeitos das crises. Isso gerou um crescimento médio de 1,5% da economia mundial que vemos hoje. Podemos até conseguir crescer novamente, mas o cenário não é fácil”, afirmou.
Segundo Holland, as questões demográficas e as mudanças climáticas vão mover a economia brasileira e mundial e precisarão ser prioritárias dentro da política pública, para garantir um crescimento perene no Brasil. “Um grande desafio é como nos prepararmos para a mudança demográfica, que não é mais hipótese e sim realidade. Sairemos de 22 milhões para 58 milhões de aposentados em 2060. Isso necessita mudanças em gastos com educação e com aposentadoria”, enfatizou.
De acordo com o economista, o Brasil fez uma boa reforma da previdência, mas já precisa de outra, para equilibrar as contas públicas, considerando que 73% do que o governo arrecada vai para pagar uma única despesa, as aposentadorias”.
Disse ainda que país algum pode ser bem-sucedido com uma desigualdade tão persistente como a do Brasil. “Precisamos ficar atentos à promoção da igualdade social, em todos os quesitos: gênero, racial, social, de oportunidades”. Em relação às questões climáticas, o professor da FGV afirma que o Brasil já deveria ter priorizado o tema, pois ele afeta a economia. “A crise hídrica é um exemplo e tem sido o vilão da alta da inflação, que já está sendo projetada em dois dígitos”, acrescenta.
Segundo ele, num país de contrastes, como o Brasil, há também razões para otimismo: “Temos grandes oportunidades de investimentos que afloram das nossas contradições e dificuldades”.
Para Carlos Kawall, diretor do ASA Investments, a economia mundial deve crescer menos em 2022, o que deverá influenciar a economia brasileira. As previsões são de crescimento em torno de 1,5%, com algumas projeções de 0,5%, não podendo ser descartada a hipótese de zero. “Como 2022 será ano eleitoral, existe a possibilidade de expansão de gastos e de investimento, o que seria um contraponto no ano que vem, embora algo de curto prazo”, disse.
Segundo ele, o Brasil dependerá da economia mundial, que mostra um certo arrefecimento nos EUA. “O ponto de atenção é a China, que quer crescer com mais qualidade e coibir excesso de crédito. O país está de olho na especulação imobiliária. É um ingrediente novo no contexto da economia global. Para nós, que temos uma dependência grande da China, é importante levar isso em consideração”.
Para o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, o Brasil vem crescendo pouco há mais de 40 anos, o que é influenciado pela baixa produtividade. Segundo ele, o país tem questões estruturais mais profundas do que as taxas de juros e câmbio. “É uma ilusão achar que, para crescer, basta investir. O resultado do investimento depende de vários fatores.
Lisboa acrescenta que os problemas estruturais do país vão muito além da macroeconomia. A estrutura tributária distorce os investimentos, o consumo e a renda. Além disso, a economia brasileira é fechada e, assim, não se beneficia dos ganhos de produtividade de outros países. O Brasil também se se destaca pelo baixo grau de efetividade do gasto público.
O economista também afirmou que o Brasil investe pouco em infraestrutura, que é um investimento de longo prazo. Para avançar nisso, outros países criaram agências reguladoras fortes. “No Brasil, as agências nunca foram fortes”, afirmou. Para atrair investimentos, precisamos de agências regulatórias mais atentas, contratos mais claros e mais segurança jurídica”, acrescentou.
Segundo Lisboa, quando boas propostas surgem, há resistência de diversas partes, como de pequenos grupos organizados que não querem perder subsídios. “Vamos fazer as reformas como devem ser feitas ou vamos ficar cada vez mais pobres? Esta é uma questão que a sociedade terá de endereçar”.
Marcio Coriolano pontuou que, mesmo nos períodos mais duros, com queda do PIB, o mercado segurador teve taxas de crescimento acima da média de outros setores. “Mesmo antes da pandemia, seguros já tinha um comportamento anticíclico, com crescimento em “V”. Em julho chegamos com o mesmo ritmo de desenvolvimento pré-pandemia. Vida e saúde lideram. No entanto, o setor necessita de um cenário macroeconômico com queda de inflação, que traz fôlego de renda aos consumidores, e queda da taxa de juros, que estimula a tomada de empréstimos. Se tivermos isso, seguiremos na trilha de crescimento registrada nas últimas décadas”, concluiu.