Evento da CNseg reuniu lideranças do setor para debater o tema “Produtos de seguros pós-Covid-19: adaptação ou revolução”
Rio de Janeiro, 13 de maio de 2020 – Quais produtos estarão na mira das seguradoras para atender à demanda surgida no pós-coronavírus, foi o tema do terceiro CNseg Webinar, realizado no dia 13 de maio pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), que reuniu mais de 1,1 mil inscritos. Participaram do debate o Presidente da CNseg*e Diretor Presidente da Fenaseg*, Marcio Coriolano; e pelos Presidentes da FenSeg*, Antonio Trindade (CEO da Chubb Seguros Brasil); da FenaSaúde*, João Alceu Amoroso Lima (Vice-Presidente do Grupo NotreDame Intermédica); da FenaPrevi*, Jorge Nasser (Presidente da Bradesco Vida e Previdência e Bradesco Capitalização), e da FenaCap*, Marcelo Farinha (Diretor Comercial da Brasilcap Capitalização).
“Esse é um tema que merece aprofundamento não apenas em relação aos produtos, mas também em suas interrelações com os canais de intermediação – os corretores – e com os diferentes perfis de clientes que surgirão após a pandemia”, afirmou Marcio Coriolano no início do evento, aduzindo que a participação dos Presidentes das Federações traz consistência ao debate e respostas mais assertivas para o que poderá ocorrer nos segmentos do setor.
Para todos os Presidentes, a crise aumentou a consciência das pessoas e empresas sobre riscos e a sua percepção da importância da proteção. Superado o período de fragilidade econômica causada por uma crise epidemiológica, essa nova consciência de proteção poderá possibilitar que seguros entrem num novo ciclo virtuoso de desenvolvimento. E isso vale tanto para pessoas físicas como jurídicas. “Temos gargalos de infraestrutura, que devem gerar oportunidades para o setor. É uma questão de tempo para atividades ainda nas mãos do Estado serem transferidas para a iniciativa privada com os programas de privatização”, disse Antonio Trindade, Presidente da FenSeg.
Antes de debaterem o tema produtos, os participantes ressaltaram uma das principais preocupações de todos: a interferência do Legislativo e do Judiciário no funcionamento do setor, tendo como pano de fundo a existência de mais de 4,8 mil projetos de lei no Congresso Nacional e Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais. Além de decisões judiciais que impõem obrigações que não estão previstas nos contratos. “A estabilização financeira é vital para a indústria de seguros. Sem ela, as seguradoras não estarão preparadas para responder à crise. Querer que as seguradoras cubram coberturas excluídas em contratos, retroativamente, é colocar em risco a solvência do setor”, comentou Coriolano no início do webinar.
Indagados sobre o que tira o sono dos executivos do setor segurador, a resposta se concentrou nos projetos de leis que afetam os quatro segmentos do setor, com destaque para os de saúde, que concentra quase 1 mil projetos em curso. De acordo com o Presidente da FenaSaúde, João Alceu Amoroso Lima, “não se muda um setor regido por uma lei especifica com um projeto ou liminar. A judicialização tem um custo caro para todos e isso elitiza o uso do plano de saúde. O foco da Agência Nacional de Seguros (ANS) tem sido o de manter o mercado em funcionamento. A ANS fez uma série de ajustes, mas que não atendem ao principal problema de blindagem da inadimplência, o que pode ameaçar a solvência das operadoras”.
Trindade chamou a atenção para projetos que possam ameaçar o equilíbrio dos contratos. “As exclusões estão muito claras nas apólices e as seguradoras vão seguir o que está escrito. Se tem cobertura indeniza. Se não, não indeniza”, reforçou. O Presidente da FenaPrevi, Jorge Nasser, concordou com ele. “Não podemos esquecer neste momento que o seguro sempre foi parte da solução. Esse olhar de longo prazo é vital. Precisamos preservar as instituições e seus direitos, bem como entender que estamos em momento de exceção. Precisamos de tempo, entendimento e de diálogo. Essa é a grande contribuição do regulador neste momento. Disso depende a nossa capacidade para ofertar novos produtos à sociedade”, disse.
Os participantes do webinar estavam curiosos para saber mais sobre a posição das seguradoras em relação ao sandbox, um ambiente de teste para novos produtos e serviços, regulamentado pela Susep. Por ser uma incubadora de insurtechs, o público perguntou o quanto isso pode impactar as seguradoras tradicionais. “Se o negócio for bom, será desenvolvido no mercado. Ou a empresa testada se junta a uma seguradora ou vai buscar um investidor. Trata-se, na minha opinião, de uma iniciativa saudável para criar novos nichos e formas de operar”, afirmou Trindade. Marcio Coriolano concordou, mas lembrou que novos cenários estarão à frente para as insurtechs, com as restrições de acesso a novos capitais em função do próprio período recessivo que se avizinha.
Sobre a tendência de homeoffice, todos foram unânimes em afirmar que veio para ficar. A síntese é de que algumas companhias já usavam o teletrabalho e este processo vai se acelerar. Os escritórios vão encolher para balancear a receita menor, pois trabalham para dar resultado ao acionista. Com isso, o setor se prepara para mudanças tanto na forma de comercialização como também de produtos que atendam as novidades em riscos trazidas por funcionários trabalhando à distância, entre eles os seguros para riscos contra ataques cibernéticos e também cobertura para equipamentos mais sofisticados instalados nas residências.
Novo normal – No pós-pandemia, ninguém ainda consegue adiantar como será a nova sociedade. Mas todos foram unânimes em reconhecer a importância do corretor de seguros. Os executivos afirmaram que o profissional precisa estar muito ativo junto aos clientes para saber como assessorá-los no momento pós-pandemia. Boa parte das perguntas aos palestrantes foi direcionada sobre o ‘novo normal’ dos consumidores para que se possa criar produtos e serviços adequados, principalmente em saúde, vida e previdência, bens patrimoniais e riscos financeiros, bem como a tendência dos títulos de capitalização. “Há uma grande incógnita ainda com tudo. Os seguros intermitentes, por exemplo, hoje já em uso em seguro de carro. As pessoas podem passar a usar mais o carro para se protegerem do contato com outras pessoas. Será? É provável”, comentou Marcio Coriolano.
Trindade disse que o setor passará por uma adaptação e talvez por uma ou outra novidade. “Nós todos vamos sair diferentes em função do gigantesco impacto social e econômico que o mundo passa, e vamos perceber à medida em que a crise for sendo mais controlada”, comentou. Automóvel, incêndio, transporte e responsabilidade civil são as principais linhas de negócios no escopo da FenSeg.
Entre os destaques em demanda e soluções no pós-crise, Trindade citou seguros cibernéticos com um dos mais promissores, uma vez que o homeoffice traz um risco de conexão que precisa ser gerido de forma mais atenta. Ele também citou o seguro residência, que certamente terão coberturas mais completas com a tendência de teletrabalho se consolidando.
O seguro para pequenas e médias empresas, segundo ele, tem um viés de que a crise torna claro a importância da transferência de risco para o setor, o que elevará a demanda pelos seguros empresariais. Incêndio e transporte permanecem com o mesmo perfil já consolidado, mas a incorporado de tecnologias para ajudar na precificação e assim trazer ganhos aos clientes que gerenciam melhor o seu próprio risco.
Outro produto citado por Trindade que deve se consolidar com o aumento de demanda e de concorrência é o seguro viagem. “Será praticamente obrigatório a compra por quem vai viajar, diante da consciência de que fatos totalmente fora do nosso controle podem causar perdas significativas”.
Quanto a novos produtos, ele acredita que surgirão, principalmente os que usam índices paramétricos, que avançarão do seguro agrícola para outros segmentos. Em relação aos seguros intermitentes, aquele em que o segurado paga somente pelo tempo que usar, o executivo acredita que vieram para ficar. “Este tipo de seguro pode atrair um percentual da população interessa nesta modalidade em auto e residência. O tempo vai dizer como será essa experiência”.
Segundo Jorge Nasser, os brasileiros percebem agora, mais do nunca, a importância do seguro, principalmente de vida e previdência, para mitigar as perdas que muitos estão tendo neste momento. No ‘novo normal’, os negócios serão centralizados em ferramentas online, sem intervenção humana. “Qual será o papel do corretor consultor. Vão perder espaço? Para mim, esse novo cenário reforça a importância do corretor, como em muitos momentos da nossa história, como um agente de revolução. E agora com a responsabilidade de ser mais preparado ainda. Por isso, o mundo pós- pandemia será mais conectado, com soluções práticas para a nossa operação e para os nossos clientes. Sairemos mais humanos e valorizando a relação humana. E mais uma vez ganha o corretor que agregar mais valor ao seu cliente”, afirmou.
O Presidente da FenaSaúde não acredita que haverá mudanças relevantes nos produtos de saúde que há são ofertados atualmente. Em 2019, o segmento vem reagindo à crise econômica que tirou milhares de pessoas da saúde suplementar com o lançamento de produtos mais acessíveis. Para ele, os grandes vencedores desse momento são a telemedicina, o homeoffice e as soluções digitais do sistema privado. “A telemedicina se tornou uma ferramenta de ajuda e suporte aos clientes, reduziu idas desnecessárias ao pronto socorro além de atuar rapidamente até mesmo no diagnóstico do coronavírus. Certamente haverá ajustes, do ponto de vista regulatório e ética médica, mas a telemedicina veio para ficar”, segundo João Alceu.
O setor de capitalização está otimista com o pós-pandemia. “Vejo boas mudanças na comercialização dos produtos, que certamente ganharão um formato mais digital e adesão dos corretores neste processo, como também maior demanda por títulos com garantia de crédito, como a fiança locatícia”, afirmou Marcelo Farinha, Presidente da FenaCap. “A criatividade nasce da angústia e com ela a necessidade de refletir. Aqui temos de contar com a ajuda do regulador, para tornar o produto mais aderente a uma nova realidade de distanciamento social. Somos altamente regulados e temos de preparar as bases para o pós- crise. Em fianças locatárias, por exemplo, é preciso reconhecer firma. Precisamos aceitar assinaturas eletrônicas, por exemplo. Entender que precisa ser mudado do ponto de vista legal é uma pauta relevante do nosso segmento”, finalizou.