No primeiro dia do evento, o secretário de Comércio e Serviços, Caio Megale, diz que desburocratização e mudanças regulatórias são prioridades do governo
“A saúde do mercado de seguros e resseguros é fundamental para garantir o bom funcionamento da economia de mercado”, disse Caio Megale, secretário de Comércio e Serviços da Secretaria de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação, que representou, nesta segunda-feira (08/04), o ministério da Economia, na primeira plenária do 8º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro. Ao analisar a conjuntura econômica brasileira, Megale enfatizou a importância da reforma da Previdência para reduzir os gastos públicos, que a exemplo do que foi a inflação nos anos 1990, são hoje “o inimigo público número 1 do Brasil”. O secretário disse que, em paralelo às reformas estruturais, é importante melhorar o ambiente de negócios do país, e que o governo considera fundamental trabalhar na desburocratização e promover mudanças regulatórias. Megale defendeu o diálogo entre o setor público e o privado, e disse que as agendas setoriais são bem-vindas. “O Brasil precisa sair do atoleiro”, disse.
Desempenho das seguradoras – Na cerimônia de abertura, o presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg), Marcio Coriolano, fez um retrospecto do desempenho das seguradoras para demonstrar que as seguradoras tem capacidade de resistir às dificuldades e sabido aproveitar exponencialmente os momentos de crescimento. “A recessão de 2016 e parte de 2017 produziu efeitos sobre o desempenho de 2018. Mas, à vista de recuos mais expressivos de vários setores econômicos, a estabilidade da arrecadação da ordem de R$ 460 bilhões é uma boa notícia, ainda mais considerando o desempenho superlativo de diferentes segmentos de seguros”, ressaltou.
O presidente da CNseg relembrou as Propostas do setor seguros para 2019 a 2022, que visam contribuir para o desenvolvimento do País e já foram apresentadas ao Congresso Nacional e entregues aos representantes dos poderes executivo e legislativo. “Os indicadores de produto, emprego e renda são os combustíveis para o setor”, concluiu.
Desempenho do resseguro – O presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguro (Fenaber), Paulo Pereira, lembrou que o crescimento do resseguro é diretamente proporcional ao aumento do Produto Interno Bruto (PIB), e expressou confiança na aprovação das reformas. Pereira citou outros fatores que podem contribuir para o crescimento do setor: oportunidades, como o risco cibernético; a aprovação da nova Lei das Licitações; a simplificação regulatória; e a necessidade de rever a carga tributária das resseguradoras para melhorar sua competitividade. “Enquanto os locais pagam no Brasil 40% de imposto e contribuição social, além de PIS e COFINS, o americano paga 34%, o suíço e alemão pagam 30%, o inglês paga 20%, o irlandês paga 12 % e o de Bermudas zero.”
Financiamento à saúde é desafio – Leandro Fonseca da Silva, diretor da Agência Nacional de Saúde (ANS), discorreu sobre a importância social e econômica do setor de saúde suplementar, que em 2018 acumulou receita de prêmios de aproximadamente R$ 200 bilhões. Leandro Fonseca disse que o financiamento da saúde é um grande desafio, devido à escalada de custos no Brasil e no mundo, e apontou o resseguro como um caminho para enfrentar esse desafio. Também participaram da abertura o presidente da Escola Nacional de Seguros, Robert Bittar, Roberto da Rocha Azevedo, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Corretagem de Resseguros (Abecor), e Antonio Trindade, da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
À tarde, aconteceram cinco painéis técnicos. A cobertura de eventos catastróficos foi tema da palestra de Rubem Hofliger, responsável pelo setor de Soluções para o Setor Público da Swiss Re, que teve como debatedores Chris Cardona, sócio da HFW, Frederico Ferreira, CEO da Austral, Pedro Farme, vice-presidente de Contratos da JLT Re Brasil, e Stèphan Godier, Chief Distribution & Parametric Leader para Latam da AXA XL Insurance, em mesa coordenada por Thisiani Martins, diretora técnica da AXA XL.
Seguro-catástrofe – Rubem Hofliger, responsável pela área de soluções para o setor público na América Latina da SwissRe, defendeu a adoção do seguro paramétrico para enfrentamento de catástrofes. “O número de catástrofes naturais vem crescendo em ritmo muito mais rápido do que o crescimento do seguro desses eventos. A cobertura é de cerca de 40%, o que obriga os governos a arcar com os custos de reconstrução e atendimento à população mais vulnerável”. Hofliger explicou que os seguros paramétricos estabelecem em contrato um limite que, quando atingido, dispara um gatilho de pagamento. No caso de chuvas, por exemplo, é possível estabelecer que a partir de determinado índice de precipitação o seguro é acionado. “As vantagens desse produto, ainda pouco usado no Brasil, são a agilidade e a liberdade para alocar os recursos de acordo com as necessidades mais urgentes”, argumentou afirmando que mundialmente, os setores onde o seguro paramétrico mais tem crescido são agricultura e energia, e os governos começam a se interessar pelo produto.
Diversidade no DNA do setor – Em outro painel, o tema foi “Diversidade em ação”, com palestras de Ana Carolina Mello, Conselheira da Associação das Mulheres do Mercado de Seguro (AMMS), e Maria Helena Monteiro, diretora de Ensino Técnico da Escola Nacional de Seguros, tendo como debatedoras Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora de Relações de Consumo e Comunicação da CNseg, Flavia Bianco, professora da Escola Nacional de Seguros, Judith Newsam, CEO da Guy Carpenter no Brasil, Juliana Pelegrín, Casualty Senior Underwriter da Swiss Re, Maria Luiza Cabral, do Serviço de Apoio ao Cliente da Guy Carpenter, e Solange Guimarães, superintendente de Comunicação Institucional da SulAmérica Seguros. A mesa foi coordenada por Margo Black, presidente da AMMS.
“Nosso setor tem o dever de ser o reflexo da sociedade porque o produto que ele entrega tem a ver com vida, com gente e com comportamento. Portanto, diversidade deve estar na natureza, no DNA do setor segurador”, enfatizou Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora de Relações de Consumo e Comunicação da CNseg.
“Cidades Inteligentes e Oportunidades para o Mercado Segurador”, foi tema de mesa coordenada por Ivani Benazzi de Andrade, gerente sênior de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Bradesco Seguros, que contou com a participação de Alexandre Cardeman, chefe executivo de resiliência e operações do Centro de Operações do Rio (Cor), e teve como palestrante Renato de Castro, especialista em smart cities da SmartUp Consulting Firm, e como debatedor Marcos Marconi, CEO da VM9.
O chefe executivo de resiliência e operações do Centro de Operações do Rio (Cor), Alexandre Cardeman, trouxe um pouco do trabalho e da tecnologia aplicada no Cor, que já recebeu sete premiações pelo seu caráter inovador a partir da integração de diferentes operações, tecnologias e comunicação direta com os cidadãos e imprensa, destacando os números e as ações que ainda estão em desenvolvimento, como o projeto de inovação aberta, homologações de soluções para cidades inteligentes, parcerias com o ecossistema de inovação, a exemplo da realizada com o aplicativo Waze (o Rio de Janeiro foi a primeira cidade do mundo a fazer essa parceria), o projeto Labgov.rio, que reúne seis startups, entre outras iniciativas.
Renato de Castro ressaltou em sua apresentação o significado do termo “smarts cities”, que “nada mais é do que lugares onde tudo parece conspirar para fazer a vida das pessoas melhor”, resumiu, explicando que recursos tecnológicos como Big Data e Internet das Coisas (IoT) estão na ponta do processo. Na opinião do especialista, a grande quantidade de informações geradas em cidades conectadas é o que vai servir como base para a estratégias do mercado de seguros no futuro.
“Não há nenhum setor mais impactado com essas transformações do que o de seguros. Em cidades cujos sistemas trocam informações de maneira adequada, é possível fazer
prognósticos mais estratégicos para subscrição de riscos e previsão de eventuais sinistros”, informou, acrescentando que o mundo nunca viveu um momento como este de produção tão veloz de informações e dados. “A IoT vai gerar uma infinidade de riqueza para as cidades nos próximos anos. Essa é a base das cidades inteligentes e também ferramenta fundamental para o mercado de seguros. “Não tenho dúvida de que dados são o novo petróleo”.
Parceria público-privada – O especialista afirmou que o desenvolvimento de cidades inteligentes só é possível com a conexão entre público, privado e pessoas. Ele acredita que as atuais Parcerias Público Privadas vão ganhar mais um P: “Teremos PPPP de Parcerias Público, Privada e de Pessoas. As cidades só se tornam inteligentes quando seus moradores são conscientes e engajados nesse propósito”, disse. Ele deu como exemplo projetos como o de Juazeiro do Norte, no Ceará, que foi o primeiro município do Nordeste a aprovar a Lei de Inovações, e a cidade de Kamikatsu, no Japão, que se tornou exemplo no que diz respeito à gestão do lixo urbano com a ajuda da população.
Alexandre Cardeman falou sobre a atuação do Centro de Operações do Rio (COR), inaugurado em dezembro de 2010 como parte do projeto da cidade para as Olimpíadas de 2016, que funciona como uma quarte general de integração das operações urbanas no município. Cerca de 30 órgãos (secretarias municipais e concessionárias de serviços públicos) estão integrados no local para monitorar a operação da cidade e minimizar impactos na rotina do cidadão.
“Cidade inteligente é quando o cidadão é bem informado para tomar decisões a partir de dados fornecidos por um centro como esse”, ressaltou Cardeman, que destacou também os programas de inovação desenvolvidos pelo COR para atrair stratups e engajar empresas a trabalharem no desenvolvimento de processos que contribuam para tornar a cidade mais conectada e inteligente. “Estão todos convidados a visitar o Centro de Operações para falarmos sobre parcerias”, afirmou.
Contratos – “Princípios da Lei Contratual de Resseguro” foi o tema da palestra de Helmut Heiss, professor do Instituto de Direito de Zurich. Ele trouxe a metodologia utilizada para criação dos Princípios da Lei Europeia de Contratos de Seguros (Pricls), que, segundo ele, não tem a intenção de ser uma lei global, o que demoraria muito. “Há quem diga que ela poderia ser um exemplo modelo para a lei nacional, mas não acho que traria as respostas para tudo. Como a arbitragem pode escolher as regras de direito, que são maiores que o direito como um todo, os Pricls talvez possam ser utilizados, pois são mais sólidos e, portanto, vão além das declarações de juízo”.
Blockchain – Encerramento o dia, foram realizados dois painéis: Aplicações de blockchain em seguros e resseguro e RC Ambiental. O painel sobre aplicações de blockchain em seguros e resseguros teve como palestrante o chairman da B3i, Anthony Elliott, e como debatedores Marcelo Hirata, diretor de Tecnologia e Inovação do IRB Brasil Re, Keiji Sakaim country head Brazil da R3 e Adilson Lavrador, diretor executivo de Operações, Tecnologia e Sinistros da Tokio Marine Seguradora. Elliott descreveu os benefícios que o blockchain trará para o mercado brasileiro: economia de 30% nos custos de transação, mais eficiência, melhoria na qualidade de informação e maior transparência. Para Elliott, o mundo vive um momento de inflexão, em que “os dados são o novo petróleo”.
RC Ambiental – O painel técnico sobre RC Ambiental trouxe a evolução do setor nos últimos 10 anos, as mudanças recentes em acionamentos, as oportunidades existentes, tendo como parâmetro os mercados americano e europeu, bem como a complexidade do conceito que ainda gera barreiras. O superintendente da HDI Global, Marcio Guerreiro, mostrou as diversas possibilidades de classificação e monitoramento de riscos que facilitam o processo de subscrição, destacando, sob esse aspecto, as oportunidades de aproximação das companhias de resseguros. Já o Latam Regional Manager da CHUBB, Fabio Barreto, abordou as principais diferenças em comparação ao mercado americano que já possui 40 anos. “O mercado de seguros em riscos ambientais é de US$ 22 milhões, enquanto o mercado americano, que é o mais desenvolvido nesse setor, é de US$ 2 bilhões em prêmio”.
A gerente de responsabilidade civil geral e ambiental da AIG Seguros Brasil, Nathália Gallinari, trouxe uma visão prática, abordando os tipos de acionamentos de sinistros, fazendo um paralelo ao mercado europeu. Segundo ela, a construção civil teve o dobro de acionamentos, com foco em gestão de resíduos de obra, assim como incêndio, seja pelas emissões atmosféricas, seja pela água de rescaldo (usada no combate a incêndios). No Brasil, hoje, 20% dos acionamentos são de efluentes sanitários humanos e biológicos, o que mostra que esse produto está cada vez mais presente em todos os segmentos da economia.
Pery Saraiva Neto conclui a plenária chamando a atenção do setor para a necessidade de um acordo semântico para que haja melhor entendimento a respeito do tema, que é tão complexo e diverso.
Mais de 700 executivos do mercado segurador e ressegurador participam da oitava edição do Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro – o maior evento anual do setor na América do Sul. Atualmente, 142 resseguradoras estão autorizadas a operar no Brasil – 16 locais (sediadas no país), 40 admitidas (sediadas no exterior, com escritório de representação no Brasil) e 86 eventuais (estrangeiras sediadas no exterior, sem escritório de representação no Brasil), que aceitam riscos de um mercado segurador robusto, cuja projeção de prêmios em 2018, com seguros e planos de saúde suplementar, é da ordem de R$ 445 bilhões.
O 8º Encontro de Resseguro prossegue nesta terça-feira, com debates sobre a matriz energética brasileira, risco cibernético e Lei de Proteção de Dados, desafios do seguro transporte, perspectivas no rating do mercado brasileiro e internacional. Acesse aqui a programação completa: https://eventos.cnseg.org.br/