A Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) retomou nesta quarta-feira, 11 de junho, a programação de Roads Shows pelo País. O primeiro evento da série prevista para este ano foi realizado em Curitiba (PR), na sede da Associação Comercial do Paraná (ACP). O encontro reuniu especialistas para debater a importância da Inteligência Artificial (IA) e da troca de informações no mercado financeiro, uso consciente do crédito, novas estratégias para o financiamento automotivo e melhora no ambiente de garantias.
Cintia Falcão, diretora executiva da Acrefi, relembrou que o último evento da entidade em Curitiba foi em 2017. “Não vamos mais ficar tanto tempo sem estar debatendo temas importantes aqui. Agradecemos a essa rede de parceiros pelo incentivo, de levar a Acrefi próxima ao associado e da sociedade”, disse Cintia na abertura.
Tadeu Silva, presidente da Acrefi, discorreu, como anfitrião, sobre a importância desses eventos para fortalecer o setor e compartilhar conhecimento. “A entidade está em um novo momento, colocando em prática estratégias para expandir seus serviços a atuais e novos associados. Também está retomando sua essência, que é estar presente, fazer relacionamento e difundir conhecimento. Isso é fundamental para o mercado de crédito, que toma importantes decisões”, disse Silva, acrescentando que o Brasil é muito grande e a entidade precisa estar próxima de seus associados.
Planejamento, conhecimento de mercado e relacionamento forte são fatores decisivos para o desenvolvimento dos negócios e o fomento de oportunidades, endossou o presidente da ACP, Antonio Gilberto Deggerone. “A ACP não abre mão de relacionamentos, uma vez que vive de bons negócios, e informações são fundamentais para a busca de oportunidades mais assertivas”, ressaltou.
Entre as novas oportunidades que devem impulsionar o financiamento automotivo, o ex-ministro de Minas e Energias, Adolfo Sachsida, destacou o recém-criado Marco das Garantias. “Trouxe novidades na recuperação das garantias. Melhorar a qualidade da garantia aumenta o volume de crédito, e a taxas de juros menores. Também amplia o acesso a financiamentos para a população de baixa renda”, enfatizou.
Segundo Sachsida, foram implementadas reformas econômicas que estão estimulando o crescimento do Brasil observado nesses últimos anos. Somente na área de crédito, a expansão foi de 6 pontos percentuais a partir de 2019. “A relação crédito-PIB (Produto Interno Bruto) no País passou a 52,78% em 2024, enquanto nos Estados Unidos é bastante superior a 100% e em países com padrão de desenvolvimento similar ao do Brasil atinge mais de 80%, o que mostra que há ainda um enorme potencial”, disse, analisando que instrumentos como o Marco das Garantias melhoram a qualidade do crédito e, em consequência, aumentam os volumes de recursos disponíveis para empréstimos, fomentando ainda mais a expansão econômica.
Inteligência Artificial
Estudos da IBM apresentados por Leandro Bisoli, sócio da Peck Advogados, em sua palestra no painel sobre o tema, revelam a participação crescente da IA nas empresas brasileiras: 41% já a implementaram em seus negócios. “É muito relevante. Há grande impacto da IA em todos os setores, pois traz ganhos de produtividade, maior eficiência em processos, redução de custos e oferta de serviços e produtos personalizados. Também ajuda a identificar tendências e oportunidades. No setor de crédito, combate e previne fraudes em tempo real, há escalabilidade nas análises”, pontuou.
A IA deve incrementar o PIB mundial em US$ 15,7 trilhões até 2030 e 55% de todos os ganhos de PIB desde 2017 até 2030 serão oriundos de aumento na produtividade, informam outras pesquisas apresentadas pelo advogado. Além disso, cerca de US$ 900 milhões virão de economia de custos até 2028 com a integração de IA pelo sistema bancário. “Cerca de 59% dos colaboradores de bancos já fazem uso de IA diariamente. É preciso apenas criar processos de segurança, para se evitar vazamento de dados e de informações confidenciais.”
A Credilink levou ao painel sobre IA o exemplo de suas próprias operações, especialmente na utilização da tecnologia para identificar pessoas e fraudes. “A companhia atua com banco de dados desde 1983 e entende que a IA precisa da inteligência humana para ser maximizada, ou seja, é preciso trabalhar com vários bureaus de dados para obter boas análises e alimentar a tecnologia com informações confiáveis”, ressaltou Mauro Melo, CEO da Credilink.
Melo destacou que os fraudadores também utilizam IA para cometer crimes. “Quanto mais avançamos na IA na validação de dados para inibir fraudes, mais os transgressores buscam alternativas”, disse, informando que somente no primeiro trimestre de 2024, das 181,77 milhões de consultas realizadas para a concessão de crédito em torno de 3% tiveram restrição por tentativas de fraudes, utilizando identidades de pessoas já mortas.
Crédito consciente
No painel sobre o uso consciente do crédito, Hilgo Goncalves, presidente do Conselho da Acrefi, enfatizou a importância de estimular a educação financeira no País para que a população forme uma cultura de uso sustentável dos recursos. “Para impactar positivamente a economia, o crédito precisa ser utilizado com consciência. Assim, o País terá também um sistema financeiro saudável”, disse Gonçalves, elencando as iniciativas neste contexto, entre as quais as do Banco Central do Brasil e a implantação, há alguns anos, do Cadastro Positivo.
Elias Sfeir, presidente da ANBC (Associação Nacional dos Bureaus de Crédito), informou que cerca de 30% a 40% das pessoas com nomes negativados não sabem que estão nesta condição e não estão com os pagamentos em dia por esse desconhecimento. “É a parcela que aceita negociar mais rápido”, afirmou Sfeir, observando que os bureaus têm ações e propósitos que vão além de fornecer ferramentas para a tomada de decisão, da lista de negativação, prevenção e notas de crédito. “Eles atuam muito com educação financeira para promover a sustentabilidade do crédito e o consumo consciente. Além de todo esse movimento de inovação pela tecnologia.”
Já Daniela Garcia, CEO Instituto Capitalismo Consciente, abordou os princípios da entidade que dirige: conscientizar as empresas a terem um propósito maior e a entender a razão pela qual existem, que é cuidar de todos os stakeholders, ter uma liderança consciente de seu papel e de seu impacto na sociedade e cultivar uma cultura de consumo consciente. “Nesse contexto, a tecnologia impulsiona a governança e capacita as empresas a abraçarem a sustentabilidade, a responsabilidade social e a transparência de dados e informações. Capitalismo consciente e tecnologia oferecem, juntos, grandes oportunidades para construção de uma economia mais sustentável.”