Parceria entre startups oferece ferramenta para estabelecimentos da favela operarem com entregadores das comunidades com o objetivo de reduzir custos logísticos e potencializar comércio local.
A Bdoo – startup de tecnologia e a naPorta – startup de last-mile que entrega em comunidades – firmaram uma parceria que promete empoderar o ecossistema de delivery das favelas e comunidades periféricas. A iniciativa visa conectar donos de restaurantes e estabelecimentos locais com entregadores da própria favela por meio do uso da tecnologia.
Na prática, existirá a digitalização do delivery dentro das favelas, como não existe nos dias de hoje. Por meio da tecnologia exclusiva, o comércio local passa a ter acesso a uma página web para ter uma linha direta com entregadores que já trabalham com entregas nas favelas. “O match entre o entregador e o comerciante é imediato, e gera impacto positivo nos custos e ganhos”, explica Denis Lopardo, founder e CEO da Bdoo.
“Nossos entregadores já fazem entregas de produtos que vem de fora para dentro da favela, eles já estão aqui dentro, conhecem os moradores e os empreendedores locais e, ao aumentar o número de entregas dentro da própria comunidade, nossos entregadores rodam menos e ganham mais tempo e dinheiro.”, explica Sanderson Pajeú, founder e CEO do naPorta.
Com isso, a parceria mira a inclusão, digitalização, acesso e dignidade para todas as pontas envolvidas no sistema de delivery. “Existem milhares de empreendedores nas favelas, vamos ajudá-los a potencializar seus negócios com uma tecnologia que já existe e que, em parceria com o naPorta, estamos levando para dentro das comunidades.”, conta Lopardo.
Pesquisa recente realizada pelo Data Favela em parceria com a Cufa e o Instituto Locomotiva, aponta que existem mais de 15 mil comércios mapeados com CNPJ, a maioria localizada nas 15 maiores favelas do Brasil. Os dados do potencial de consumo das favelas também impressiona: existem 13 mil favelas no Brasil, com cerca de 5 milhões de domicílios e mais de 17,1 milhões de moradores, que movimentam mais de R$160 milhões por ano. “São empreendedores, trabalhadores e consumidores como qualquer outro cidadão brasileiro, independente da classe social ou de onde vivem, precisam ter acesso às tecnologias de forma simples e acessível.” ressalta, Lopardo.
Open Delivery nas favelas
Além de facilitar a relação entre estabelecimentos e entregadores, a parceria já nasce dentro dos protocolos Open Delivery, desenvolvido pela ABRASEL e que tem a Bdoo como a primeira empresa homologada no protocolo logístico.
O protocolo Open Delivery possibilita que diversos marketplaces e gestores de pedidos se conectem a plataforma que será utilizada ampliando o leque de ofertas de serviços oferecidos para estabelecimentos das comunidades e consequentemente o aumento do número de pedidos e entregas nas favelas. “Pedir, pagar, entregar precisa ser fácil nos grandes centros e fácil nas favelas. Estamos trabalhando ativamente para aquecer a economia circular nas comunidades.”, diz Lopardo.
Parceria na prática
O projeto se inicia em 15 de agosto na favela Rio das Pedras no Rio de Janeiro e até o final de 2022 as startups querem chegar a outras 10 favelas.
Os estabelecimentos poderão realizar o cadastro gratuito pelos sites das startups e ao receber a senha de acesso, poderão cotar, chamar e pagar os entregadores para realizar suas entregas. O valor pago via PIX pelos estabelecimentos será repassado aos entregadores.
Ao ser questionado sobre onde estão os ganhos ao realizar entregas da favela para a favela, Pajeú, da naPorta, diz que o seu principal ganho não é financeiro, mas sim a fidelização do prestador de serviço que não precisará se deslocar para realizar entregas nos grandes centros. “Existe um limite de entregadores disponíveis para realizar entregas no Brasil e, ao reduzir o tempo de deslocamento entre uma entrega e outra, entre uma empresa contratante e outra, a qualidade de vida dessa pessoa melhora e o prestador opta por ficar onde há entregas concentradas”, explica.
Lopardo, da Bdoo, comenta que há muito a ser feito para levar mais acesso e prosperidade às comunidades. “Temos tecnologia e capacidade para operar, estamos unindo mais forças e toda ajuda é bem-vinda para irmos ainda mais longe”, destaca o executivo que busca patrocínio de grandes corporações para expandir a plataforma tecnológica de forma sustentável.