12/4/2021 –
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% dos homens no mundo, incluindo homossexuais e bissexuais, sofrem de algum nível de impotência sexual. Conhecer o próprio corpo, seus desejos, limitações e cuidar da saúde é essencial para uma vida sexual saudável e sem frustações
Infelizmente no Brasil ainda existem poucas informações específicas sobre o perfil comportamental do público LGBTQI+, o que dificulta a criação de políticas públicas mais favoráveis para esta parte da população, principalmente aquelas relacionadas à saúde sexual.
Por isso, ainda é difícil traçar padrões de satisfação nas relações sexuais desse grupo. E conhecer o seu corpo, desejos, medos e limitações faz parte do processo de autoconhecimento, assim como estar aberto para entender o que dá prazer ao outro.
No entanto, o fato é que o quesito saúde exerce total importância para o sexo prazeroso e seguro, assim como uma vida sexual de qualidade interfere na saúde como um todo. E a melhor forma para encontrar esse equilíbrio é se informar para prevenir, além da busca pelo autoconhecimento que deve ser prazerosa.
Quantidade x qualidade: como alcançar a satisfação sexual no relacionamento
Em qualquer relacionamento, uma boa frequência sexual é fator importante e a prática é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como um dos pilares da qualidade de vida.
Dentro desta vertente, uma pesquisa realizada pela clínica norte-americana de Proctologia Bespoke Surgical, apontou que, dos 300 homossexuais ouvidos, 13% afirmaram manter a prática anal todos os dias. Outros 39% fazem apenas algumas vezes por semana, 24% poucas vezes por mês e 16% alegaram nunca praticarem sexo anal.
O ato sexual pode ir muito além da penetração, o estímulo de zonas erógenas também pode proporcionar prazer e a satisfação. No relacionamento, testar coisas novas ajuda a aquecer a relação. Afinal, curtir uma nova fantasia ou uma posição diferente com o parceiro certamente vai aumentar a cumplicidade.
“Diversas questões podem influenciar negativamente na frequência sexual ou na qualidade do sexo, como ansiedade e estresse que, consequentemente, desencadeiam problemas de ereção e ejaculação, por exemplo”, comenta Willy Baccaglini, médico urologista e mestre em Medicina Sexual pela FMABC.
De acordo com a OMS, cerca de 30% dos homens no mundo sofrem de algum nível de impotência sexual, principalmente na faixa etária acima de 40 anos.
“Apesar do grande volume de casos de impotência sexual, alguns homens ainda são resistentes em procurar um médico urologista para falar sobre o tema, pois consideram que o problema está mais relacionado a uma questão momentânea, do que com sua saúde propriamente dita. No caso do homem que faz sexo com homem, o medo de sofrer qualquer tipo e preconceito ou discriminação também inibe a visita ao consultório”, esclarece Baccaglini.
O cuidado com a saúde é fator importante para relações
A Pesquisa Mosaico, realizada pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), indica que 81% dos homens que fazem sexo com homens usam camisinha na hora H.
Se por um lado, esta informação pode indicar que os homens gays estão preocupados com a saúde, por outro lado, uma outra informação do estudo aponta que, no período de 12 meses, 47% dos homens gays afirmaram que tiveram relações sexuais com três ou mais parceiros. E, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), independentemente da orientação sexual, fazer sexo com múltiplas parcerias é um sinal de alerta para as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
“Apesar de funcionar como uma forte barreira, o preservativo sozinho não impede totalmente que uma pessoa contraia uma infecção sexualmente transmissível. O HPV, por exemplo, pode ser transmitido apenas pelo contato com a pele contaminada. Então se o vírus estiver presente na virilha ou na região escrotal, por exemplo, a chance de contágio existe”, alerta o urologista.
O especialista também comenta que, considerando o ato sexual pela via anal, o risco de contaminação é maior, pelo fato de a mucosa desta região ser mais sensível a traumatismos e, consequentemente, transmissão de doenças. Por isso, a melhor maneira de evitar a contaminação por uma IST é a informação voltada para prevenção e proteção, com destaque para o uso de preservativo, inclusive no sexo oral.
Sem medo do urologista
De um modo geral, o homem que, assumidamente, faz sexo com outro homem é mais seguro de si e se sente à vontade em ir até o consultório médico fazer exames periódicos e tirar eventuais dúvidas que possam surgir.
“Eu vejo uma maior aceitação do público masculino homossexual de frequentar o consultório, até mesmo em uma idade mais precoce. Eles estão cada vez mais preocupados com sua saúde, principalmente em questões relativas às IST’s e seu desempenho sexual”, comenta Dr. Baccaglini.
Ainda segundo o médico, diferentemente dos homens heterossexuais que são estimulados por suas mulheres para cuidarem da saúde, este público pratica cada vez mais o autocuidado e são mais bem resolvidos em tomar a iniciativa de procurar um urologista.
Por outro lado, o especialista afirma que, infelizmente, ainda existe um certo receio por parte do paciente de sofrer algum tipo de preconceito. “Esta barreira está sendo quebrada. Todo médico precisa oferecer um ambiente humanizado e acolhedor para o seu paciente, seja qual for sua orientação sexual. No caso do urologista, o paciente tem que se sentir à vontade para falar sobre sua vida sexual e perceber que o profissional está coletando todas essas informações totalmente livre de qualquer tipo de preconceito”, reforça.
Para o especialista, esta conexão é fator determinante para a construção de uma relação sincera e produtiva entre médico-paciente, pois “se o profissional não proporcionar um ambiente acolhedor, dificilmente o paciente se sentirá confortável para falar sobre questões que contribuam para que ele tenha uma vida sexual saudável e com qualidade, sem medo de doenças e sem medo de ser feliz”, ressalta.
Com relação à periodicidade de consultas, o médico explica que tudo é muito relativo e depende muito das necessidades do paciente. “O recomendável é que homens mais jovens sem qualquer tipo de sintoma visitem um médico urologista uma vez ao menos na adolescência ou vida adulta inicial, período em que há início da vida sexual da maior parte dos homens. A partir da meia idade, os 40-50 anos, o acompanhamento anual é recomendado, também por outras questões que se associam ao envelhecimento masculino”, finaliza.